FRONTEIRAS PERMEÁVEIS
A construção de um presídio inclusivo na zona Norte da cidade de Maceió é um desafio que se estabelece à medida que a implantação do conjunto conta com um centro carcerário existente, uma cidade universitária e uma ocupação residencial cconsolidada. Desse modo, a proposta realizada pretende conversar com o seu entorno de maneira incisiva, contribuindo para a construção de um espaço urbano mais diverso, sem limites e fronteiras rígidos e seregadores.
A leitura da situação carcerária brasileira é o ponto de partida para que trabalhemos a arquitetura para unir a população e promover o encontro, conceito de vital importância para uma cidade que quer reabilitar seus presos e configurar os valores dos presídios brasileiros. A associação entre os conceitos de confinamento e educação é premissa para a realização desse projeto, que propõe para uma aproximação entre os dois. Acredita-se que o aprendizado e consequente reabilitação de um prisioneiro são os passos certos para a criação de cidades onde a resincidência criminal deixe de ser protagonista no cenário urbano violento das capitais e metrópoles do país.
Assim, a arquitetura é o veículo que comunica diretamente à população o novo valor em vigor. Foge-se dos modelos tradicionais carcerários fechados em si mesmos, com longos corredores enclausurados onde ninguém se vê e é oprimido pela consciência da vigilância constante. O que se propõe é um espaço dotado de um limite físico que colabora para os contatos pessoais dos presos. A ideia é que o confinamento contribua para a reflexão de um homem que realiza diversas atividades: assiste a aulas; produz trabalhos manuais e de carpintaria; aprende novos ofícios; trabalha no restaurante do presídio; pratica atividades esportivas; cultiva culturas alimentícias em pequenas hortas.
Esse raciocínio está ligado à intenção de reintegrar o preso à sociedade. Isso significa que o homem é um ser capaz de reaprender e absorver novos valores. No presídio inclusivo, ocorre um prrocesso para tal: há uma preparação para essa reentrada na sociedade através de serviços médicos, acompanhamento psicológico e construção de intimidade; então, constrõem-se pontes com organizações comunitárias privadas ou públicas; a família como ponto nodal para novas expectativas do preso, promovendo um suporte e um círculo social adequado para a sua nova realidade; e então busca-se orientar e alimentar o presioneiro de razões e condições de trabalho para se readequar ao meio urbano.
A concretização arquitetônica desses gestos se dá a partir, primeiro, da implantação do conjunto. Tem-se como estratégia a permeabilidade peatonal como elemento de ativação dos espaços livres e programáticos criados. Assim, configurou-se uma malha que segue a forma urbana do bairro e se reproduziu uma agregação ortogonal de vias e massas construídas; aparece também o pátio como elemento organizador dos tipos construídos. O resultado é um conjunto edificado horizontal que permeia o tecido urbano existente, configurando praças e espaços dotados de diferentes níveis de luz, ventilação e vegetação.
O sistema construtivo adotado também buscou essa replicabilidade de soluções em qualquer parte do território nacional. O aço, portanto, se apresenta como melhor solução do ponto de vista construtivo, visto que possibilita um canteiro de obras limpo, rapidez na construção, possibilidades diversas para um projeto modulado (módulo básico de 30cm) e leveza visual para uma proposta que pretende ser o mais aberto possível, ainda que com acessos controlados.
A inclusão do presídio se dá, portanto, em dois níveis: a reinclusão do preso na sociedade; e a inclusão da sociedade no presídio que compartilha programas e espaços com o terreno destinado ao projeto. A dialética entre a liberdade e aprisionamento ganha novas configurações em uma proposta que busca ser o mais versátil possível.
* Projeto vencedor do concurso Presídio Inclusivo Projetar.org, elaborado por Daniel Zahoul Machado e Thiago Santana Maurelio, ambos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo/SP. Resultado publicado em 02/11/2015.
Fonte: Projetar.org