No dia 7 de maio último, saiu no editorial NY Times que o rótulos como ‘criminoso’ são sentenças perpétuas bastante injustas.
Para sustentar tal afirmativa, baseou-se no fato de que a administração de Obama, durante os anos de seu mandato, tentou a todo custo minimizar os efeitos das políticas que negavam emprego, trabalho formal, moradia, educação, crédito para consumo, licença profissional e outros meios para sobrevivência a dezenas de milhões de pessoas com fichas criminais, de modo que pudessem conduzir suas vidas de modo produtivo e viável.
A iniciativa tem sido levada pela Federal Interagency Reentry Council – uma espécie de conglomerado formado por mais de 20 agências federais responsável pela reabilitação dos internos – que tem se focado de maneira mais estrita em eliminar barreiras em relação à empregabilidade dessas pessoas que saem de trás das grades e que tem se tornado um empecilho, considerando que empregadores começaram a usar pesquisas computadorizadas para verificar os antecedentes criminais de seus candidatos a emprego.
Recentemente, a administração pública verificou também que o vocabulário do encarceramento – a maneira permanentemente estigmatizante da qual falamos das pessoas que já foram presas – representam uma barreira real para a reintegração. Oficiais relataram que é necessário uma mudança léxica, para que essas pessoas que cometeram crimes possam ter melhores oportunidades de serem vistas não só como abstrações, mas como verdadeiros seres humanos com valor e serventia para a sociedade.
Já se anunciou, pelas autoridades, que não se usa mais os termos “criminosos” ou “condenados” nos sites ou discursos oficiais, mas, no lugar, termos como “pessoas que cometeram crimes”ou “indivíduos que foram encarcerados”.
Karol Manson, que escreve para o Washington Post, afirmou que a mudança na linguagem auxilia a solidificar princípios de redenção e segunda chance de que a sociedade precisa.
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E, definitivamente, isso tem muito a ver com a teoria da rotulação que surgiu para contrastar com o estruturalismo funcional, ou a teoria do consenso, consolidada na década de 50. Nesta teoria, as normas sociais poderiam definir, de forma objetiva, aqueles que se comportavam de forma “normal” – isto é, os que escolhiam seguir as regras – e os “transgressores” ou “desviantes” – aqueles que escolhiam ir de encontro delas. Na década de 60, quando a nova teoria surgiu, também chamada de etiquetamento ou reação social, chegou-se a conclusão de que colocar rótulos nas pessoas faz com que se criem expectativas que se tornam professias auto-realizáveis.
Um experimento, realizado por David Rosenhan, ilustrou a forma com a qual pessoas são tratadas quando rotuladas de uma determinada maneira. O pesquisador e sua equipe resolveu se internar em diversas instituições psiquiátricas pelos Estados Unidos, reportando um único sintoma: ouvir vozes. Foram, então, rotulados como esquizofrênicos. Desde então, passaram a ser tratados como tal. Porém, a partir de sua entrada nas instituições, começaram a agir normalmente, mas não receberam tratamento diferenciado. Os pacientes, no entanto, que não tinham dado rótulo algum, confrontaram os “pseudopacientes”, perguntando a eles se eram jornalistas ou pesquisadores, já que eles não agiam como os demais. Ao saírem, relataram como foram objetificados e desumanizados pelos funcionários, médicos e enfermeiros, pelo simples fato de terem recebido o diagnóstico de “esquizofrênicos”, e, mesmo tendo agido normalmente durante todo o tempo em que permaneceram no local, não conseguiram apagar tal rótulo, recebendo apenas em suas fichas o carimbo “esquizofrenia em remissão”, isto é, não presente no momento.