Há quem diga que a culpa é da própria sociedade que existam tantos criminosos e que a motivação para a delinquência parta das diferenças sociais, das pressões para o sucesso, pelo capitalismo selvagem ou seja lá pelo discurso qualquer que seja. De uma forma ou de outra, o que mais se vê por aí é a procura de culpados. Alguém que se possa apontar o dedo e dizer que foi o responsável pela desgraça mundial. Ou, ao menos, a própria.
Assim, não é à toa que, mesmo em casos de acidentes – e veja bem o nome da própria situação: ACIDENTE, isto é, não se espera e nem se deseja que aconteça – existe o ímpeto instintivo de apontar os culpados. Não diferentemente, as vítimas buscam responsabilizar os seus algozes e, pasmem, até mesmo os criminosos tendem a sentir rancor dos juízes pelo seu destino: a prisão.
No entanto, não é o caso de Charles Alston, de 62 anos, condenado a 25 anos de prisão, cumprindo sentença por roubo a mão armada em Carolina do Norte, na Franklin Correctional Center. Após ficar sabendo que o juiz da Suprema Corte Carl Fox, de 61 anos, estava lutando contra um câncer e à procura de um doador de medula óssea, sem que houvesse encontrado nenhum que fosse compatível até o momento, encaminhou a ele uma carta, voluntariando-se para o gesto.
Na carta, ele dizia: “Você foi o promotor no processo que julgou o meu caso, em que eu fui condenado a uma sentença de 25 anos. Eu sei que você está precisando de um doador compatível de medula óssea. Eu posso ser ou não compatível, mas estou disposto a fazer esse sacrifício, caso seja necessário.”
Alston afirmou que não sentia qualquer rancor contra o juiz Fox, e que acredita que a condenação salvou a sua vida, por tê-lo posto atrás das grades, onde foi possível contornar os erros passados cometidos anteriormente.
Isso não quer dizer que Alston não passou por seus momentos de revolta e ódio. Ele explica que também passou por muito tempo se remoendo por dentro por ter recebido uma pena que considerava ter sido muito dura, mas acredita que, após ter passado a frequentar a igreja e encontrado a Deus, tem fé que, hoje, se puder fazer alguma coisa em prol de outra pessoa, que não medirá esforços para fazê-lo.
Apesar de sua oferta generosa, detentos não podem ser doadores por conta dos riscos de doenças contagiosas dentro das prisões serem mais elevados, mas Fox ficou muito surpreso e tocado com a atitude de Alston. “Para mim, significa muito mais do que a própria doação, dadas as circunstâncias, afinal ele tinha todas as razões para ter ódio de mim, pela sentença pela qual foi condenado.”, afirmou Fox.
Informado de que não poderia ser doador, independentemente da compatibilidade, Alston lamentou e disse que ainda assim espera um dia poder reencontrar Fox e orar com ele, se houver oportunidade.
Histórias como essas permitem perceber que, apesar de todas as mazelas que se podem perceber por trás das grades, em que a corrupção, o racismo, o preconceito, a má vontade predominam, ainda existe esperança de que bons resultados ocorram. Ainda há razões para acreditar.