UM CAMINHO PARA A LIBERDADE
A proposta tem como enfoque fundamental a ressignificação do lugar “presídio” no contexto brasileiro, através da total reconstrução arquitetônica da tipologia vigente no país. Esse processo reconstrutivo pauta-se em premissas de projeto completamente vinculadas ao respeito às condições humanas, à reintegração social, à educação cultural e profissional e à socialização. A ideia é que o presídio passe a ser vislumbrado como um caminho, através do qual os reeducandos possam recuperar alguns valores e ter contato com elementos de formação moral e intelectual capazes de lhes proporcionar uma vida inteiramente nova ao fim de seu período de reclusão.
A concepção do presídio como um caminho foi adotada na prática para a concretização do partido arquitetônico. O projeto é desenvolvido em um eixo (caminho) central, ao longo do qual encontram-se dispostos os blocos de habitação. O eixo possui pontos de começo, meio e fim bem definidos: inicia-se em um espaço sereno, de contemplação, estar e conexão com a natureza – e que, por conta dessas características, foi eleito para ser o centro ecumênico, em respeito à diversidade de crenças existentes no território brasileiro -; perpassa o espaço em que se concentram as atividades desportivas, de educação e lazer; e termina no edifício que contém o setor administrativo e o de visitas. Portanto, à medida que se vai percorrendo o caminho, aproxima-se a ideia de liberdade. Esse conceito é válido tanto para os equipamentos de uso coletivo, como já explicitado, quanto para os blocos de habitação, já que os blocos localizados na porção inicial do caminho abrigarão os reeducandos que cumprem regime fechado por crime contra o patrimônio; e os da porção final aqueles que cumprem regime semi-aberto.
No intuito de fomentar a socialização e o contato com a natureza, espaços livres também se encontram dispostos ao longo do caminho central, entre os blocos de habitação. Estes, por sua vez, têm sua organização espacial interna realizada de forma a respeitar a privacidade de cada reeducando – na medida em que cada um possui o seu quarto e banheiro individuais -, porém, proporcionando um constante contato físico e visual entre os habitantes do bloco, – já que o corredor central faz a conexão entre os quartos e os espaços de uso coletivo e que é constante o uso de aberturas e de elementos que garantem a permeabilidade visual.
O espaço que concentra as atividades desportivas, de educação e de lazer tende a ser, fundamentalmente, um locall de formação. O objetivo é que as variadas possibilidades de atividades ofertadas nesse espaço possam ser transformadoras e essenciais na reinserção dos reeducandos tanto na sociedade em geral, quanto no mercado de trabalho. Segundo informações de veículos de comunicação nacionais, um reeducndo, no Brasil, custa ao poder público em torno de duas vezes o valor de um estudante universitário e cerca de 50% deles têm, no máximo, 30 anos de idade. Levcando-se em consideração estes dados, optou-se por fazer das oficinas espaços profissionalizantes e que pudessem ajudar na própria manutenção do presídio. São elas: carpintaria, música, jardinagem e culinária. Garante-se, assim, que os reeducandos apropriem-se mais do espaço que estão, já que são contribuintes diretos de sua estruturação e que o presídio possa tornar-se um local financeiramente mais sustentável. Outra decisão relevante foi a de que 03 das 06 salas de aula propostas fossem destinadas ao ensino médio, contemplando, assim, a faixa etária predominante. Além disso, objetiva-se fomentar o aprendizado e as atividades coletivas em todos os espaços pertencentes a esse complexo, que tem o átrio central como elemento de união das atividades e edificações de convivência dos reeducandos.
Entendendo-se que a família é o melhor contato com o mundo exterior e com a liberdade almejada que se pode desejar dentro de um presídio, optou-se por sua localização ao fim do caminho, junto com o setor administrativo. Seu acesso é feito a partir do complexo desportivo, de lazer e de educação, de forma que seja obrigatória a passagem do reeducando por esse centro de formação e convivência para que se aproxime da liberdade desejada.
Todo o complexo presidiário é rodeado por grandes r frondosas áreas verdes, de forma tanto a dificultar que sejam extrapolados os seus limites físicos, quanto para incentivar o contato visual com a natureza e inspirar sensações de paz e serenidade. Utiliza-se, também, o recurso paisagístico denominado “Ha-ha-wall”, criando-se, dessa forma, barreiras físicas se utilizando da própria paisagem, sem a quebra das visuais.
* Projeto terceiro lugar do concurso Presídio Inclusivo Projetar.org, elaborado por Isabela Ribeiro de Castro, Francisco Edson Macedo Filho e Matheus Sampaio Serrano, todos da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza/CE. Resultado publicado em 02/11/2015.
Fonte: Projetar.org