Como eu havia mencionado no post sobre o programa de intercâmbio Inside-Out, tive a oportunidade de estar na penitenciária de segurança máxima de Graterford, no estado da Pensilvânia. Embora o objetivo principal da visita não fosse exatamente conferir a arquitetura do local, consegui obter informações gerais de como o estabelecimento funciona, como se distribui no terreno, como os presos e funcionários se distribuem, e outras informações relevantes para a compreensão da importância do planejamento espacial de ambientes como esse.
Segundo informações que podem ser obtidas publicamente, Graterford fica localizada em Skippack Township, Montgomery County, a aproximadamente 50 km a oeste da Filadélfia, na Pensilvânia. Foi construída em 1929, sendo a maior penitenciária de segurança máxima do estado, com capacidade para 4000 pessoas.
O perímetro é cercado por muralha de 9.1m de altura, possuindo 9 torres ao longo dela. Inicialmente, o complexo era composto de 5 blocos com 400 celas cada. Em 1989, foram acrescentados um prédio para administração, uma enfermaria com 28 leitos e 372 celas adicionais. Além desses acréscimos, foram construídas 40 celas em uma unidade de segurança conhecida como BAU (Behavior Adjustment Unit) ou RHU (Restricted Housing Unit), onde são alojados pessoas em regime disciplinar diferenciado e os condenados a pena de morte. Originalmente, a planta de 1929 previa 8 blocos de 400 celas cada, totalizando 3200 celas individuais.
Atualmente, os dois blocos RHU são essencialmente prisões dentro da prisão, abrigando por volta de 300 presos (aproximadamente 10% do total da população carcerária do complexo), que são submetidos ao regime 23/1, que quer dizer 23 horas de confinamento e 1 hora de recreação e atividades físicas ao dia. Recebem 3 refeições diárias e podem ir à sala de banho para higienização pessoal. As pessoas detidas nessa unidade, também conhecida como “J Block” podem receber 1 visita por mês. Além das RHU, Graterford também possui uma outra edificação destinada a pessoas com doenças mentais, (Mental Heath Unit).
Na edificação original, além dos 5 blocos e seus respectivos pátios de vivência, fica localizado s “setor industrial”, onde são oferecidos trabalhos e atividades remuneradas ao presos. Dentre essas atividades, podem ser citadas ateliê de corte e costura, malharia e tecelaria, fábrica de sapatos. Fica também localizado o centro de distribuição de correspondências, ou correio. Além disso, são desenvolvidos na penitenciária programas educacionais e também de agricultura, uma vez que dispõe de grande área de fazenda.
Os presos dispõem ainda de auditório, ala educacional (escola), capela e academia.
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DADOS OBTIDOS NA VISITA
Cada bloco, com 400 celas, abrigam entre 600 a 800 pessoas, em celas individuais ou duplas. No momento, o estabelecimento não está funcionando a toda capacidade, mantendo entre 3400 a 3500 pessoas.
Os condenados a prisão perpétua (presos chamados de “lifers“) ficam em celas individuais. Os demais presos são “promovidos” a celas individuais conforme critérios estipulados pela administração, como, por exemplo, idade, tempo cumprido, tempo a cumprir, entre outros aspectos.
As celas são abertas às 6 da manhã para a primeira contagem do dia e se fecham para o recolhimento noturno às 9 da noite, quando as luzes se apagam. Durante o dia, as atividades ocorrem segundo os horários de cada preso. Quem tem emprego, trabalha; quem tem aula, estuda. Quem não tem nada a fazer, fica nos pátios, exercitando ou lendo ou qualquer outro passatempo a que se proponha.
Os horários dos trabalhos oferecidos no estabelecimento são geralmente de 8 da manhã às 3 da tarde, 5 dias por semana. Evidentemente, existem diferenciações de horários ou turnos, como em qualquer outro trabalho.
Já sobre detalhes das celas, diferentemente de muitas das prisões nos Estados Unidos, o controle térmico somente ocorre durante o inverno, quando existe sistema de calefação (vale lembrar que na Pensilvânia os invernos são rigorosos, com temperaturas abaixo de 0 e neve). No verão, no entanto, não há condicionamento de ar, sendo que as janelas das celas podem ser abertas para ventilação.
Para entretenimento, é permitido possuir televisão dentro das celas, que deve ser comprada pelo preso. A família não pode enviar nada para a prisão. Caso o preso queira algo da comissaria e não tenha condições de comprar, a família pode encaminhar dinheiro para a conta do detento. Nenhum dinheiro em espécie é permitido dentro do estabelecimento penal, sendo que todas as compras são feitas por sistema de crédito/débito.
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CURIOSIDADES
No Brasil, raramente as penitenciárias possuem cozinha funcionando, oferecendo serviço aos presos, por questões de “segurança” (já que os presos manuseiam facas e objetos que podem ser usados como armas). Em Graterford, porém, assim como na maioria das prisões americanas, a cozinha é um dos postos de trabalho que sempre tem disponibilidade de trabalho. Para manter a segurança, as facas e outros utensílios são fortemente acorrentados às mesas.
Já em relação ao aspecto da recreação, pode ser realizada em pátios secundários (ou laterais), localizados entre os blocos de celas, em que a ocupação é feita por somente um bloco por vez, ou no pátio principal, onde a aglomeração pode ser maior. Nesse pátio principal, existe circuito de corrida e campos para futebol americano, beisebol, basquete.
Considerando a periculosidade do objeto, os tacos de beisebol são acorrentados ao chão, sobretudo após um episódio fatídico em que um dos presos matou um agente de segurança. O curioso é que, conforme pessoas que assistiram a cena, o próprio agente de segurança (vítima) é que levou o taco para o corredor principal para atacar o preso (que passou a ser o algoz).