Você iria comer em um restaurante localizado em um estabelecimento penal em Milão?!

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Isso mesmo! Você não leu errado! A penitenciária Bollate, em InGalera, localizada em Milão, traz como atendentes os detentos para lhes servir a culinária italiana e traz nas paredes imagens icônicas de filmes relacionados a prisões, como parte da decoração. Reservas para o mês de março estão praticamente lotadas, estando na lista inúmeras famílias, incluindo um ex-banqueiro, assim como uma antiga Miss Itália. Para Silvia Polleri, gerente do restaurante e verdadeira visionária, InGalera é um triunfo, mais pelo local onde se encontra do que pela comida que serve, afinal fica dentro de um espaço socialmente ignorado pelas pessoas: a prisão.

Sendo assim, dentro da Penitenciária Bollate, um estabeelecimento de segurança média com 1.100 detentos, nos limites urbanos de Milão, os garçons, cozinheiros, lavadores de pratos, auxiliares foram todos condenados a homicídios, roubo armado, tráfico de drogas e outros crimes.

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É complicado imaginar uma história de culinária dessas ter sucesso em um local como InGalera, ou um tão experimento intrigante com detentos em processo de reabilitação – sobretudo com uma situação de tamanho confronto com a sociedade e público com atitudes das mais diversas, com possibilidades reais de julgamento sobre eles.

Raras são as pessoas que pensam em prisões como um local para se visitar em alguma ocasião na vida. Então, realizar um restaurante e fazer com que se idealize um estabelecimento penal como um ponto de encontro, ainda mais para conversar, comer e beber, foi um desafio para o marketing. A forma de se fazer um jogo de palavras foi utilizar o próprio nome da prisão e dizer que se está “InGalera”, como se quisesse dizer que, em se estando no restaurante, não se precisasse sentir a tensão e, ao contrário, ficasse à vontade, como se estivesse com “a galera”.

A arquitetura do restaurante é bastante descolada, moderna, tendo nas paredes posteres temáticos de filmes relacionados a prisões como “Fuga de Alcatraz”, com Clint Eastwood.

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Por muitos anos, a Itália teve problemas com o seu sistema prisional, sobretudo tentando balancear a punição com a reabilitação (um problema sofrido por quase todos os sistemas no mundo). A superpopulação carcerárea se tornou um problema tão grande que em 2013 que a Corte dos Direitos Humanos ordenou que o país solucionasse o sistema. Assim, leis italianas fizeram com que medidas alternativas fossem aplicadas para crimes de menor potencial ofensivo. Em 2014, também foi utilizada a política dos “três strikes”, semelhante ao dos Estados Unidos, o que resultou na soltura de 10.000 detentos (dos aproximadamente 60.000) que tinham sido condenados por crimes de menor potencial ofensivo.

Porém, o problema de como reabilitar os transgressores – e diminuir a reincidência – continuava o maior desafio. A Itália continuava permitindo que os detentos de prisões de segurança média circulassem nos estabelecimentos durante o dia. “O maior problema era que eles pouco faziam durante o dia, o que não ajudava muito no presente, quanto mais no futuro, quando eles saíssem da prisão”, disse Alessio Scandurra, que trabalha para Antigone, um grupo não-lucrativo focado nos direitos dos detentos.

A prisão Bollate foi a vanguarda do experimento mesmo antes da abertura do restaurante. Sob a direção de Massimo Parisi, a prisão já possuía uma série de programas. Várias empresas ofereciam serviços dentro da prisão, além de haver voluntariados que ensinavam teatro e pintura, habilidades de carpintaria, serralheria e outros. Os detentos mantinham um estaleiro de cavalos dentro da prisão. Além dessas posições dentro do estabelecimento penal, existe uma iniciativa que permite que cerca de 200 detentos saiam da prisão para trabalhar fora. Eles comutam sem supervisão em transporte público, se apresentam na chegada e na partida e em alguns outros pontos durante o dia.

Sr. Parisi afirmou que, até hoje, somente um detento não compareceu na hora marcada do retorno, mas compareceu alguns dias depois.

(Observe que este modelo é muito semelhante ao já existente e possível regime semi-aberto no Brasil, isto é, aquele de realizar serviço externo, sem supervisão, ao ambiente penal).

 

SAINDO DO PAPEL

 

A ideia do restaurante conseguiu sair do papel após alguns patrocínios, incluindo PricewaterhouseCoopers, uma firma de contabilidade, e depois que um escritório de arquitetura que desenhou o restaurante sem cobrar honorários. Fica localizado no térreo do que seria o pavilão do dormitório dos agentes penitenciários. O maitre e o cozinheiro chefe são contratados. Todos os demais são detentos da própria prisão.

 

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Os detentos recebem 1.000 euros por mês e dividem gorjetas. A Sra. Polleri compreende que o restaurante incomoda muita gente e não quer ofender as vítimas dos crimes. Mas ela defende que as prisões precisam treinar os transgressores para serem cidadãos capazes para entrarem novamente na sociedade, e ressaltou que os índices de reincidência passaram a ser bem menores que a média anterior.

 

 

 

 

Fonte: NY Times

 

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